Um exemplo de cinismo político
O governo reuniu-se ontem à noite para analisar, e aprovar, o Plano de Reestruturação da TAP, a entregar amanhã em Bruxelas.
O Plano, bom ou mau - não é o que aqui está em causa - foi desenvolvido pela empresa, como se sabe em modo de gestão interino. É contestado pelos sindicatos - dirão que seria sempre, qualquer que fosse, mas para o efeito é também indiferente -, que dizem não ter sido ouvidos, e que entendem que está erradamente enquadrado. Que a TAP deveria nesta altura estar enquadrada nos apoios que as suas concorrentes estão a receber no quadro da pandemia (recorde-se que a União Europeia impede o acesso a esses apoios a empresas que já tivessem problemas anteriormente ao início da pandemia, mas também que esses problemas são mais iguais para uns que para outros), e que só o não está por prévia opção do governo. E, tanto quanto se sabe, prevê a redução da frota de 105 para 88 aviões, o despedimento de 2.000 trabalhadores, redução da massa salarial em 25%, e mais 1.600 milhões de dinheiros públicos, que acrescem aos 1.200 milhões já injectados neste ano.
O governo fez entretanto saber que o Plano será submetido a aprovação no Parlamento. Lá para Fevereiro... Porque - justificam - não dispondo o governo de maioria absoluta é preciso envolver os partidos com representação parlamentar na aprovação do deste Plano. À primeira vista, aos olhos mais descuidados, pareceria uma posição prudente, sensata, responsável e democrática.
Não é, no entanto e mais uma vez, muito mais que puro cinismo político. A esquerda, que certamente viabilizaria as injecções de capital, nunca aprovará um Plano que tenha despedimentos, e neste despedem-se 2.000 trabalhadores. E a direita, que facilmente aceitará os despedimentos, reagirá negativamente às necessidades de mais dinheiro do Estado.
Alguém vai ter de engolir sapos. Ou não, e ficar com o ónus da falência da TAP. António Costa e o seu governo é que não têm nada a ver com o que venha a suceder. Lavaram as mãos!
Isto não é alta política. É simplesmente o cinismo da política.
PS: Nada disto tem alguma coisa a ver com a minha posição sobre a situação da TAP, que aqui expressei em diversas ocasiões. Como nesta, por exemplo.