Um montanha de parir ratos
Por Eduardo Louro
Foi criada e alimentada uma grande expectativa à volta do Conselho de Ministros de hoje. Os jornais anunciavam coisas mirabolantes, até que a meta para o défice deste ano iria ser reduzida para metade. Quer dizer, vejam lá como está tudo a correr tão bem que até o défice vai ser menos de metade dos 4% a que estávamos obrigados para este ano!
Já estamos habituados. Como já estamos habituados a estas conferências de imprensa que não dizem nada, em que nada fica claro e em que tudo é vago e nada é dito com o mínimo rigor. Mais um rato parido pela montanha!
O ministro Marques Guedes abriu com estrondo: "não vai haver aumentos de impostos"!
Ora aí está. A grande notícia é que não há mais aumentos de impostos... Era só o que faltava... Só faltava mesmo que achassem que ainda poderiam continuar a aumentar os impostos sobre o pagode!
Depois veio a ministra Albuquerque anunciar que algumas medidas de carácter extraordinário vão ser mantidas, mas “as medidas duradouras não se traduzem em sacrifícios adicionais para os contribuintes". E por fim a notícia era um corte na despesa de 1.400 milhões de euros: 180 milhões na função pública, que acabou por confirmar incluir rescisões; 320 milhões com a redução de custos em consultorias, coisa que como se sabe é simpática; 170 milhões no sector empresarial do Estado; e por fim os restantes 730 milhões em cortes na orgânica e funcionamento dos ministérios, sem que tenha levantado qualquer pontinha do véu. Sem avançar com uma única medida, sem um único exemplo... Nada, coisa nenhuma...
Só não é estranho porque nos lembramos do Guião do Paulo Portas. Que é a mesma coisa nenhuma. E se é assim naquela que é a maior fatia e a rubrica que o governo melhor domina, que - a par da dos cortes em consultores - depende só e apenas de si próprio, que é até a mais popular sem, portanto, nada a esconder...
Se o governo fosse uma montanha era mesmo uma daquelas que só parem ratos. E não é porque, depois de tanto parir, já pare sem dor. Não, é que é mesmo assim: afinal isto são apenas as linhas gerais para a conclusão da décima primeira avaliação da troika. Que estava pendente, à espera disto, de mais um exercício de faz de conta!