Um mundo perigoso*
Regresso aos sinais dos tempos que vivemos. Tempos estranhos, carregados de preconceitos que subvertem os verdadeiros problemas do nosso mundo, particularmente nas sociedades desenvolvidas, autenticamente viradas do avesso.
Na semana passada fomos surpreendidos com um estranho autoflagelo do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, uma das vedetas da actual política internacional. Em plena campanha eleitoral, também no Canadá, veio a lume uma fotografia de uma festa de finalistas, há para aí uns 30 anos, em que o jovem Trudeau surgia maquilhado de escuro, num disfarce de Aladino, logo usada pela paranóia instalada dos tempos que correm para ser acusado de racista.
Quando se esperaria uma reacção de denúncia da infundada e abusiva acusação, completamente contra-senso, foi o próprio Trudeau que veio de imediato assinar por baixo, publicamente mostrar arrependimento e pedir desculpa pelo acto cometido na juventude, e do qual se sentia profundamente envergonhado.
Aquele acto de contrição, de violento autoflagelo, era ainda mais paranóico que a acusação inicial. E por isso mais chocante!
Trudeau não pedia desculpa por um acto racista que ninguém de bom senso reconhece, e que bem sabe não cometeu. Reagia apenas ao medo que marca os tempos que correm, num acto de tremenda cobardia perante essa tenebrosa tribo do preconceito politicamente correcto. Trudeau não a combateu, como a condição de líder mundial lhe impunha, juntou-se a ela e deu-lhe ainda mais força.
Não admira por isso que no início desta semana tivemos assistido a mais uma demonstração desta força das trevas. Desta vez a desdita caiu que nem uma bomba em cima do Bernardo Silva, a estrela da selecção nacional de futebol e do Manchester City, e por sinal uma joia de moço. Limitou-se a uma brincadeira, no Twitter, com um seu colega de equipa e amigo, o francês Mendy – negro, evidentemente - prontamente correspondida pelo seu interlocutor, usando uma imagem de um boneco negro de uma conhecida marca de chocolates.
A turba não perdoou, e saltou em comentários enfurecidos e queixas e denúncias por todo o lado. O rapaz apagou o que escrevera, mas já não lhe valeu de nada. A Federação inglesa abriu um inquérito por comportamento racista. Diz-se que poderá ser castigado com 7 jogos de suspensão!
Parece que estamos mesmo a viver o fim do mundo.
* A minha crónica de hoje na Cister FM