Uma aresta por limar?
A (excelente) entrevista do Presidente Angolano à RTP, na véspera do seu aniversário, que festejará com o Presidente Marcelo na véspera do início da sua visita oficial a Angola, demonstrou a boa onda que as relações luso-angolanas atravessam. Que se saúda, e que se deseja duradoura.
Para classificar essa relação, o próprio Presidente João Lourenço declarou-a "no pico da montanha". E para mesmo nenhuma dúvida ficasse a esse respeito, Vítor Gonçalves, o entrevistador da RTP, lembrando que, em Setembro de 2017, no seu discurso de tomada de posse ignorara Portugal, perguntou ao presidente angolano se, hoje, faria o mesmo.
A resposta foi politicamente correcta, como não poderia deixar de ser, e mesmo dizendo que essa omissão não tinha sido intencional, não hesitou em deixar claro que a resposta seria "não". Mas foi a forma como complementou a resposta que particularmente me prendeu a atenção, quando referiu que, sem adiantar o que irá "dizer sobre Portugal", da próxima, haveria "uma boa surpresa". Passo a transcrever: "Numa ocasião futura, digamos daqui a três anos sensivelmente, quando se realizarem novas eleições, não devo adiantar o que direi sobre Portugal, mas será uma surpresa para todos, angolanos e portugueses, e será com certeza uma boa surpresa".
João Lourenço confirma-se nesta entrevista como um líder moderno, hábil e ponderado que sabe muito que palavras utilizar em cada momento. Que nada fica a dever aos mais experimentados políticos internacionais. E no entanto não hesitou em dar por adquirido que daqui a três anos estará de novo a tomar posse como presidente da República. Não esperou sequer que o entrevistador lhe perguntasse - como viria a fazer mais tarde, então já com as voltas trocadas e completamente fora de tempo - se se recandiataria a novo mandato. Não referiu nem a hipotética condição da recandidatura, nem os hipotéticos resultados eleitorais...
Meros apêndices do dispensável politicamente correcto no actual quadro político angolano? Ou ainda uma aresta por limar?