Uma missão para os benfiquistas
Quando, no máximo a três meses das eleições (depende do que melhor convier a Vieira), deveriam andar a discutir um nome para a presidência do clube, os benfiquistas andam a discutir o nome do novo treinador para a equipa principal de futebol. Em vez de discutir o essencial, preferem discutir o acessório, como se o clube estivesse num rumo indiscutível e com um futuro inquestionável. Como se tudo se resolvesse com uma mudança de treinador, deixando tudo na mesma.
O treinador da principal equipa de futebol é sempre uma peça importantíssima na estrutura de um clube como o Benfica. Mas, ao contrário do presidente, nunca é mais que uma peça.
Não sei quem deva ser o próximo treinador do Benfica. Sei apenas quem não deveria ser. Sei que não deveria ser Jorge Jesus, porque o Benfica tem que ter memória. Nem Unai Emery, porque a sua ideia jogo não encaixa no que eu gostaria que fosse o futebol do Benfica. Nem Vítor Pereira, porque nem tem currículo para isso nem o Benfica precisa de ir ao caixote do lixo de Pinto da Costa. Nem Marco Silva, que muito prometeu e pouco cumpriu. Nem, evidentemente, pelas mesmas questões de memória, Paulo Sousa.
Sei também quem não deva ser o próximo presidente. Sei que não pode continuar a ser Luís Filipe Vieira, por tudo o que venho escrevendo pelo menos há três anos. Porque se fez dono do clube, que é nosso. Pelas negociatas de toda a espécie, pela falta de transparência, pela subjugação dos interesses do clube aos seus, e aos dos seus, pelos processos judiciais para onde o arrastou e pela forma com o tem armadilhado para se proteger a si próprio.
E sei que também não poderá ser nenhum dos candidatos por enquanto anunciados. Porque Bruno Costa Carvalho, independentemente de ter ou não condições para formalizar a candidatura, não é sequer para levar a sério. Porque o Ricardo Martins Pereira é um de nós, tão presidenciável como qualquer um de nós, o que evidentemente não basta. E porque Rui Gomes da Silva não tem simplesmente estatura para ser presidente do Benfica. Nunca ficaríamos melhor com um presidente proveniente dos degradantes programas da bola das televisões. A sua aposta nesses programas para lá chegar, saltando de uma estação para outra para não perder a tribuna, bastaria para lhe ditar a falta de estatura. Ética, mas acima de tudo intelectual.
A imagem que projecta na sua exposição pública - discurso vago, inconsequente e pouco claro, sem coerência e sem ideias - não o credencia para a presidência do Benfica. Acreditar que lhe bastam os ecrãs da televisão retira-lhe estatura intelectual.
Mas sei quem deveria ser. E sei o que deveria estar a acontecer para que fosse.
Todos sabemos que não vai ser fácil "apear" Luís Filipe Vieira. Lembramos-nos do que foi necessário fazer para impedir Vale e Azevedo que, ironicamente, LFV não se cansará de evocar para se manter agarrado ao poder. A tarefa agora é muitíssimo mais difícil: Vieira está lá há vinte anos, e dispõe de muitíssimos mais meios. E de infinitamente mais armadilhas.
É preciso encontrar um nome consensual no universo benfiquista. Que não esteja marcado pelos jogos de poder, a quem sejam reconhecidas qualidades pessoais, integridade e conhecimento e experiência. De futebol, do jogo, e de tudo o que anda à volta dele. E é preciso que uma onda benfiquista se crie para esta missão. Para, em primeiro lugar, lhe lançar o desafio e, depois, o suportar. A todos os níveis, e com todos os meios.
Não haverá muitos nomes para esta missão de resgate do Benfica. Eu estou a ver um: Humberto Coelho!
Mãos à obra!