Utopia no charco
Pelo segundo ano consecutivo o Benfica deixou dois pontos em Guimarães. Na época passada, os primeiros. E, lembramo-nos bem, na primeira exibição falhada. Ontem, em dia de recordar Feher, vinte anos depois daquele seu último sorriso, à 21ª jornada, o 11º, na enésima exibição falhada.
A exibição falhada de ontem não tem, no entanto, nada a ver com a do ano passado. Como a equipa vitoriana deste ano não tem nada a ver com a de então, quer no que joga, quer na classificação que ocupa. Esta equipa de Guimarães ganhou ao Sporting - igualando o que só o Benfica tinha conseguido - e deu um "banho de bola" ao Porto, que só ganhou esse jogo por milagres do Diogo Costa.
Da exibição falhada de ontem pode falar-se do estado do relvado que, transformado num autêntico pantanal - provavelmente com outro adversário o jogo não se teria realizado ou, pelo menos teria sido interrompido na primeira parte - tornou difícil jogar futebol. É certo que o estado do relvado era igual para ambas as equipas, mas mais igual para uma que para outra.
Do que não pode deixar de se falar é da opção de Roger Schmidt deixar três pontas de lança no banco, e de escolher jogar sem nenhum. Seria sempre estranho, mas ainda se poderia fazer um esforço de interpretação da ideia do treinador se o campo estivesse em bom estado, e permitisse sustentar uma estratégia de ataque móvel para um jogo de transições rápidas, como se sabe a ideia de jogo mais atractiva que Schmidt tem para apresentar. Naquelas condições do relvado isso era mais que utopia. Era cegueira!
O jogo rapidamente mostrou essa cegueira, com a ala esquerda (Morato, já nem sabe defender e João Mário já não dá para entender, e pior ainda naquelas condições do terreno) desastrada, e os jogadores a jogar como se pisassem o esplendor da relva. Como jogam sempre, os mesmos de sempre, da única forma que conhecem, mesmo se em vez de relva tivessem de jogar num charco. Já se tinha dado conta que nunca há plano B perante contrariedades próprias do jogo. Ontem ficamos a saber que nem perante a impraticabilidade do relvado.
E isso é ainda mais preocupante que os dois pontos ontem deixados em Guimarães.
Porque, nesta altura, ninguém saberá se foram dois pontos perdidos ou um ganho. Ganho pelo Trubin, e pelas substituições que aligeiraram os equívocos iniciais. Poderá sempre dizer-se que afinal o resultado foi o mesmo: que o Benfica empatou (1-1) a primeira parte, sem ponta de lança; exactamente como na segunda, já com dois. Mas, para ser verdadeiro, o golo de Rafa, para empatar a primeira parte, cinco minutos depois do penálti sofrido, aconteceu na única oportunidade de golo então construída. Já o de Cabral, que estabeleceu o empate final, foi consequência de qualquer coisa mais continuada. E, mesmo sem, à excepção da posse de bola, nunca se superiorizar claramente ao adversário - rematando bem menos e não tendo construído mais oportunidades de golo - ainda assim, foi pelo que fez na segunda parte, que o Benfica justificou o empate.