Vacina de confiança*
Putin anunciou a vacina por que todo o planeta anseia, com o nome de Sputnik V, mas o mundo desconfiou.
Talvez comece por aqui, justamente pelo nome, a desconfiança do mundo na vacina russa. Há três boas razões para desconfiar. A primeira é que há apenas uma semana ainda não constava entre as seis que a Organização Mundial de Saúde garantia estarem mais avançadas. A segunda é a falta de acompanhamento de pares estrangeiros em relação à metodologia científica utilizada. E a terceira é o registo da vacina sem estar concluída a fase de testes. Putin anunciou que foi testada na filha, e que tudo está a correr bem. Não é bem a mesma coisa...
Mas basta o Sputnik para desconfiar. Sputnik é a marca do programa espacial do início da segunda metade do século passado, com que os soviéticos chegaram primeiro ao espaço, ganhando essa batalha aos americanos. É a marca do poderio científico russo que Putin agora recupera para marcar superioridade face ao ocidente.
Putin é capaz de tudo. Para tudo e especialmente para marcar essa superioridade.
Confiar numa vacina não é uma questão de crença. É uma questão científica. E ninguém acredita que Putin queira arriscar o prestígio mundial da Rússia numa vacina feita exclusivamente de propaganda. Da mesma forma todos sabemos que, seja a que nível for, nunca se pode subestimar a Rússia. A História encarregou-se de nos ensinar que sempre que alguém o fez se saiu mal.
Mas nem isso faz com que, em vez de aplaudir esta vacina, o mundo continue desconfiado… É que, mais que de uma vacina contra o covid, Putin precisa de uma vacina de confiança. De credibilidade.
* A minha crónica de hoje na Cister FM