Virar a página sem virar de página
Foi na "prata da casa" que António Costa encontrou a solução para substituir Pedro Nuno Santos no Ministério das Infraestruturas e da Habitação. Dividiu o ministério em dois e entregou o das Infraestruturas a João Galamba, até aqui Secretário de Estado da Energia. O da Habitação não foi mais que passar de Secretaria de Estado a Ministério, passando Marina Sola Gonçalves, a Secretária de Estado, a Ministra.
Quando, por tudo o que têm sido estes ainda tão curtos meses de governação, em permanente convulsão, e os mais evidentes sinais dos pecados capitais que o Presidente, ainda ontem, na sua mensagem de Ano Novo, identificou - “erros de orgânica, descoordenação, fragmentação interna, inação, falta de transparência e descolagem da realidade” -, e sem pressão de tempo, pelo contrário, com o Presidente ausente do país, tinha até mais tempo para aproveitar esta oportunidade para proceder a uma remodelação que pudesse inverter o que tem sido uma governação desastrada, António Costa apenas dá mais um sinal de esgotamento.
Mais que confirmar que já não só não tem capacidade de recrutamento na sociedade civil, mostrou que o seu campo de recrutamento se restringe já, e apenas, ao próprio governo. Se António Costa não estivesse acossado, fechado no seu círculo de fidelidades, e "descolado da realidade", teria ele próprio apresentado a demissão ao Presidente da República. Não para criar uma crise política, mas para criar a oportunidade para constituir um governo novo, capaz de assegurar um rumo novo à governação.
Mas, se não consegue recrutar fora do governo sequer um ministro, como poderia encontrar uma dúzia de ministros novos para um governo novo?
E, já agora, será que o primeiro ministro acredita mesmo que não há nada para explicar sobre Fernando Medina? Que acredita que ele tem condições para continuar Ministro das Finanças? E que acredita que ele vai ser deixado em paz?
Diria que não. Que apenas acredita que consegue sempre virar a página sem virar de página.