Vuelta 2022 - III
Correu-se hoje a etapa rainha da Vuelta, a 15ª, na Sierra Nevada, quando a competição está prestes a fechar a segunda das suas três semanas, depois de se ter transferido das Astúrias para a costa mediterrânica, e de ter descido de Valência para a Andaluzia.
Se esta era a etapa rainha, donde tudo se esperava, foi no entanto a de ontem, também já com muita montanha, com chegada à Sierra de la Pandera - onde Carapaz voltou a ganhar (já tinha vencido a 12ª, também em montanha, e juntou-se, com duas vitórias, ao australiano J Vine, líder da montanha e a grande revelação da prova) a que mais pôs o lider à prova. Evenpoel, que tinha iniciado a segunda semana reforçando a liderança, no contra-relógio de pouco mais de 30 quilómetros (10ª etapa) entre Elche e Alicante, em que deu "um banho" a toda a concorrência, enfrentou grandes dificuldades, e perdeu tempo para os principais adversários, deixando a ideia que não resistiria à alta montanha.
Para já, resistiu. Mesmo sendo 10ª na etapa, imediatamente à frente de João Almeida, e voltando a perder tempo para os mais directos perseguidores, e em especial para Roglic e Mas, segurou a "roja" com 1´e 49´´ para o esloveno e 2´e 43´´ para o espanhol.
Ambos atacaram. Enric Mas, primeiro, e ganhou mais com isso. Foi segundo na etapa, atrás do holandês Arensman (que subiu a 8º, a apenas 5 segundos de João Almeida), e ganhou tempo aos dois primeiros. Roglic, já só atacou o belga da camisola vermelha depois de não ter conseguido responder ao ataque de Mas, e foi quinto na etapa.
Evenpoel chegou a dar a ideia que não conseguiria resistir, e que acabaria por se afundar nos últimos quilómetros, serra acima. Mas acabou por encontrar o seu ritmo, minimizar os estragos, e manter bem vivas as hipótese de chegar a Madrid na frente.
A corrida de João Almeida tem sido de grande regularidade. E marcada pelas condições já conhecidas. Sabia-se - tinha-o dito o próprio - que não estava completamente recuperado depois do Covid que o afastou do Giro, e sabia-se - tinha-se já visto claramente na primeira semana - que o estatuto de chefe de fila era só no papel. A equipa, claramente bem apetrechada de ciclistas, tanto que nem admira que lidere a classificação colectiva, nunca esteve disposta a funcionar como tal, ao serviço de um líder. E a corrida do miúdo Ayuso, com os seus 19 anos o mais novo da corrida, e com muita qualidade, mais acentuou esse problema.
Até porque, no contra-relógio, onde o João Almeida deveria fazer a diferença para o seu jovem companheiro, e ultrapassá-lo na classificação geral, as coisas não lhe correram bem. Enganou-se no percurso e, com o tempo (e não só, certamente) que perdeu, não conseguiu melhor que o 15ª registo, a 2´13`` de Evenpoel, logo atrás de Nelson Oliveira (a 1´59``), nem tirar mais que 4 segundos à diferença que tinha para Ayuso.
Tem andado sempre entre o 6º e 8º lugar da geral, e nestas etapas de alta montanha, sempre a correr de trás para a frente, entregue a si próprio, mas também sempre com bons desempenhos. Hoje, nesta etapa rainha, voltou a não fugir à regra.
Na fuga, mais uma vez um colega de equipa - Marc Soler - desde muito cedo. João Almeida ficou para trás, e depois foi subindo. Quando a etapa verdadeiramente se começou a decidir já lá estava, a encostar ao grupo dos favoritos. Já tinha apanhado Ayuso e Carlos Rodriguez - outro promissor miúdo espanhol, da Ineos e 4º da geral. Assistiu-se então a um pequeno número de jogo de equipa, entre os dois, para derrotar Rodriguez. Pequeno, porque Soler continuava lá na frente, desgastado e já sem qualquer possibilidade de ganhar a etapa, em vez de estar a ajudar os dois companheiros da equipa que contam para a geral. E apenas útil para Ayuso (7º na etapa), em disputa directa com Rodriguez, a quem acabou por ganhar perto de 2 minutos, o suficiente para lhe "roubar" o 4º lugar da geral.